Destituo o teu ser em prosa à toa
Esmago em mim os teus restos de carne boa
Em balanço contínuo, navego por entre as dores do perder
Aceito as verdades do esquecer
Honesto, olho com olhos de chama cinza
Construo o poema para acabar com a cela
Aquela que te sustenta no teu pedestal
Talvez o que eu criei para ti
Talvez o que criaste por você,
Mas retiro os privilégios do teu nascimento
Talvez não com a veracidade universal,
Talvez não com só aquilo que digo.
Restituo a pungência ao seu lugar
Abandono as lamúrias na esquina que te armazenei
Caminho batendo no chão o ferro do amor gasto,
A ferrugem do que cultivei.
Marco o teu nome no fogo da minha memória
Amasso em brasa as mentiras que criei
E as verdades que assumi como favoráveis,
As que fomentam a fecundidade incontrolável do destino.
Destino esse que me escreveu paralelo a ti
Que como fucinheira, criou uma tentação passível de tatuagens e
Cabível nas literaturas,
Provavelmente não das belas.
Tudo que eu juntei como possibilidades
Agora mora no homem que construo no anti-pensamento
Às cegas, no automático, e que sofre com as imutabilidades.
Não de ideias. Dos fatos.
Afogo as teimosias no mesmo mar que banhas teus sonhos
Demonstro, com cara de vencido, a ferida ainda latejante
Ao mesmo passo que balanço para quase cair ao pé do altar
Junto da prece que criei para te cultuar, te cultivar.
Procuro e martelo em pregos permanentes,
Na parede suja da carne-viva já quase dormente,
O antídoto para tuas toxinas embriagantes:
O anti-tudo na anti-prece do teu não ainda – embora quase – anti-ser.
João Pedro Innecco